Investigação.
Esta é a palavra que paira sobre o projeto Speculum Brasilis,
uma idéia criada pelo maestro Jorge Antunes para especular
as possibilidades de fusão do erudito com o popular. E
foi partindo desta idéia que nasceu uma série musical
que vai juntar a música de pesquisa criada pelo maestro
ao que há de mais autenticamente de raiz na música
brasileira. Speculum Brasilis promete promover a fusão
da música eletroacústica desenvolvida por Antunes
com a viola caipira, o choro, a canção folclórica,
o bumba-meu-boi e a embolada. Para isso, ocuparão o palco
do Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília e no Rio
de Janeiro, artistas de renome, dividindo espaço com o
sintetizador e o computador do maestro. Jorge Antunes convidou
para o programa o bandolinista Hamilton de Holanda e o violeiro
Roberto Corrêa, músicos hoje consagrados que foram
alunos de Antunes na Universidade de Brasília. Além
desses, o maestro convidou membros do Madrigal de Brasília
e o grupo do Boi do Seu Teodoro. Juntos, eles vão romper
todas as fronteiras entre estilos e gêneros. A série
se desenvolverá durante todas as terças-feiras do
mês de outubro, em Brasília, e de novembro, no Rio
de Janeiro, sempre em dois horários ? às 13h00,
com entrada franca, e às 18h30, com ingressos a R$ 15,00
e R$ 7,50. A realização é do CCBB.
Jorge Antunes é um dos maiores nomes da música eletroacústica
no mundo, considerado pela crítica internacional como líder
da vanguarda musical brasileira. Em seu currículo estão
vários prêmios nacionais e internacionais - entre
eles, a conquista, por duas vezes, do Prêmio de Recomendação
da Tribuna Internacional de Compositores da UNESCO. Inquieto,
criativo, Antunes sempre procurou estar próximo de movimentos
populares, desenvolvendo também um trabalho com forte carga
política - um exemplo é
sua famosa Sinfonia das Diretas (Sinfonia das Buzinas). Agora,
com Speculum Brasilis, o maestro quer ir além: provar que
é possível o cruzamento entre erudito e popular,
sob os auspícios da alta tecnologia, popularizar e humanizar
a música eletroacústica.
Durante toda a série, Jorge Antunes estará acompanhado
do GeMUnB, o Grupo de Experimentação Musical da
UnB, formado por Mariuga Lisboa Antunes (piano), Ludmila Vinecka
(viola), Guerra Vicente (violoncelo) Marcus e Jorge Lisbôa
Antunes (violinos) e Felix Alonso Morales (clarineta), criado
pelo maestro nos idos de 1973. Cada um dos instrumentos estará
ligado à parafernália eletroacústica de Antunes.
Assim, o som será reproduzido depois de processamento ao
vivo. Caberá sempre ao GeMUnB
dar início aos concertos, interpretando peças criadas
por Jorge Antunes, de acordo com o tema proposto. E só
depois desta apresentação é que o convidado
do dia será chamado a se integrar ao som. Também
no bandolim de Hamilton de Holanda, na viola de Roberto Corrêa
ou nos pandeiros e tambores do Bumba-meu-boi estarão cabos
ligados a um computador e o som de todos os instrumentos será
eletronizado.
Speculum Brasilis (cuja tradução poderia ser "o
espelho que reflete as vanguardas musicais brasileiras")
vai integrar os instrumentistas a equipamentos eletrônicos.
Será a fusão de estilos, indo do experimental de
hoje ao tradicional, sempre a partir de composições
do próprio maestro Jorge Antunes. Além dos sons
gerados em tempo real, oito microcâmeras estrategicamente
fixadas (para oferecer, por exemplo, detalhes
da execução dos instrumentos) projetarão
em telões imagens cortadas e editadas também em
tempo real. O espectador, portanto, presenciará sempre
um espetáculo único e irrepetível. Haverá
ainda uma fusão tecnológica. Para eletronizar o
som, Jorge Antunes fará uso de dois equipamentos separados
por décadas. Em primeiro lugar, estará o sintetizador
analógico Synthi A, criado em finais da década de
60 e início dos anos 70 ? atualmente, um equipamento que
já é peça de museu. Por outro lado, o maestro
também fará a manipulação de um Powerbook
G4, com o programa GRM-Tools,
de última geração, que é considerado
tecnologia de ponta no universo da música eletrônica.
Sobre
Jorge Antunes
Jorge
Antunes é considerado o precursor da música
eletrônica no Brasil. É autor de mais de 200 composições,
escritas para as mais diversas formações: orquestra,
óperas, coro, solistas, música de câmara e
música eletroacústica. O maestro é membro
eleito vitalício da Academia Brasileira de Música
(ocupante da Cadeira nº22), e presidente da Sociedade Brasileira
de Música Eletroacústica. Tem composto muitas novas
obras sob encomenda de Rádios e Festivais do mundo inteiro.
Participou recentemente, com grande sucesso, de importantes concertos
e festivais na Espanha, França, Romênia e Cuba.
Em 2005, o cineasta Carlos Del Pino realizou o filme intitulado
Maestro Jorge Antunes, Polêmica e Modernidade. Esse documentário
de 50 minutos foi premiado no programa DocTV do Ministério
da Cultura e será estreado em novembro deste ano, no Festival
de Brasília do Cinema Brasileiro, onde o compositor biografado
será homenageado. No dia 15 de agosto de 2005, Jorge Antunes
viaja para a França, onde será homenageado, durante
o Festival Futura da cidade de Crest.. Várias de suas obras
eletroacústicas estão programadas para o Festival
e, no dia 20 de agosto, será realizado um concerto
intitulado Concert-Portrait Jorge Antunes, um espetáculo
monográfico apresentando 9 peças de Antunes. Jorge
Antunes nasceu no Rio de Janeiro em 1942, começou os estudos
musicais em 1958 e em 1960 ingressou na Escola Nacional de Música
da Universidade do Brasil (atual UFRJ). Em 1964, começou
o curso de composição e regência na mesma
escola, estudando com Henrique Morelembaum, José Siqueira
e Eleazar de Carvalho. Simultaneamente, seguiu o curso de composição
de Guerra Peixe. Já em 1961, começou a se interessar
pela música eletrônica, ao mesmo tempo em que ingressava
no curso de Física da Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi).
Depois de construir vários geradores, filtros, moduladores
e outros equipamentos eletrônicos, Antunes fundou o Estúdio
de Pesquisas Cromo-Musicais, destacando-se desde entãocomo
precursor da música eletrônica no Brasil. A partir
de 1966, começa a se destacar como um dos nomes mais representativos
da vanguarda musical brasileira, participando de vários
festivais nacionais e internacionais. Antunes realizou importantes
pesquisas relacionadas ao som e aos demais sentidos, em universidades
brasileiras, européias e asiáticas (o maestro desenvolveu
pesquisas em cidades como Berlin,
Baden-Baden, Freiburg, Amsterdam, Tel Aviv, Jerusalém e
Paris). Em junho de 1973, Antunes foi convidado pela Universidade
de Brasília para dirigir o Curso de Composição
Musical no Departamento de Música, onde ele é atualmente
Professor Titular. Na UnB, reorganizou seu antigo estúdio
de Música Eletrônica, e fundou o GeMUnB (Grupo de
Experimentação Musical), um conjunto de oito músicos
especializado em música contemporânea e em live-electronics
que fez uma turnê de concertos na Europa
em 1975. Em 1994, Antunes foi eleito membro titular da Academia
Brasileira de Música, teve participação especial
no Festival de Música Eletroacústica de Bourges,
na França, e recebeu o Prêmio de Música Criativa
do Festival de Londrina, na Paraná. Neste mesmoano, organizou
e coordenou o I Encontro de Música Eletroacústica,
em Brasília, em que foi fundada a Sociedade Brasileira
de Música Eletroacústica. Antunes
foi eleito presidente da S.B.M.E. tendo, em 1997, sido reeleito
presidente por mais um período. Em 2002, o maestro comemorou
60 anos de vida e recebeu homenagens em várias partes do
mundo. Em 2003, a editora Sistrum publicou uma biografia de Jorge
Antunes escrita por Gerson Valle, intitulada: Jorge Antunes, uma
trajetória de arte e política. No mesmo ano alguns
CDs monográficos, com obras de Antunes, foram publicados
pela Academia Brasileira de Música, pela gravadora Mode
Records de Nova
York, pela Editora da UnB e pelas Edições Paulinas-Comep
de São Paulo.
Sobre
os convidados
Hamiton
de Holanda - Um dos maiores instrumentistas de todos
os tempos. Esta é a afirmação unânime
da crítica brasileira e estrangeira quando se refere ao
bandolinista Hamilton de Holanda. Nascido no Rio de Janeiro e
radicado desde bebê em Brasília, Hamilton começou
a tocar bandolim (que ele ganhou do avô) aos cinco anos
de idade. Com seis anos, já fundava com o irmão,
o violinista de sete cordas Fernando César (então
com 11 anos) a dupla Dois de Ouro, com a qual se apresentou em
vários teatros e programas de televisão da capital
? chegando a aparecer no Fantástico, da TV Globo. Sempre
era elogiado pela precocidades e pelo talento. Em 1995, conseguiu
classificar três composições para a final
do II Festival do Choro do Rio de Janeiro, ganhando o prêmio
de melhor intérprete. A música que conquistou o
segundo lugar no festival, Destroçando a macaxeira, deu
título ao primeiro CD do Dois de Ouro, lançado em
1997 e com excelente repercussão de crítica e público.
Dessa época até hoje, tem dividido o palco com os
maiores instrumentistas brasileiros ? como o mestre Hermeto Pascoal
(para quem Hamilton é "o melhor bandolinista do mundo").
Um dos fundadores da
Escola de Choro Raphael Rabello, a primeira do gênero no
Brasil, Hamilton de Holanda vem se apresentando em diversos eventos
e festivais de grande importância para o cenário
musical mundial ? como Fête de la Musique (Paris), Jazz
Fest Wien (Viena), Brazilian Music Festival, em Istambul. Fez
um espetáculo histórico no ano de 2000, na 15º
edição do Free Jazz Festival, no Rio de Janeiro
e em São Paulo. No mesmo ano teve participação
no Arts Alive International Festival, em Joanesburgo , África
do Sul. Em 2002, depois de tocar em dois importantes festivais
da Córsega, França, foi apontado pela crítica
como "o melhor bandolinista do mundo", prova de que
Hermeto sempre teve razão. Tem já oito discos lançados.
Boi
do Teodoro - Também conhecido como o Bumba-meu-boi
de Sobradinho, foi criado por Teodoro Freire, maranhense que mudou-se
para Brasília e coordenou a primeira apresentação
no Distrito Federal em 1961. A partir de então, o grupo
cresceu junto com a cidade. Teodoro Freire criou, em 1963, o Centro
de Tradições Populares, em Sobradinho, que difunde
festas e danças do folclore nordestino, e se tornou conhecido
no Distrito Federal com o tradicional Bumba-meu-boi. Espécie
de auto que encena o
rapto, morte e ressurreição do boi, essa manifestação
é ligada ao ciclo agrário e teve sua primeira apresentação
na capital em junho de 1963. Até 1972, o centro chamava-se
Sociedade Brasileira de Folclore.
Madrigal
Seis - Os seis solistas do grupo são integrantes
do Madrigal de Brasília, coro que surgiu em 1963, através
da iniciativa do Maestro Levino Ferreira de Alcântara. Ao
longo destes mais de 40 anos de trabalho, o grupo alcançou
um nível técnico que o situa entre os melhores do
Brasil. Seu repertório abrange a literatura musical de
todos os períodos da música ocidental. Já
lançou 6 CDs, sendo o penúltimo chamado Madrigal
de Brasília canta Compositores da EMB. Participou de vários
festivais de coros no Brasil e no exterior. Em 1994, ganhou a
Medalha de Prata em Atenas-Grécia, assim como o 1o. lugar
na categoria Coro Folclórico. Algumas das antigas obras
corais de Antunes, que integram o repertório do Madrigal
de Brasília e que, inclusive, estão incluídas
no último CD do grupo, estarão sendo interpretadas
pelo sexteto de cantores solistas no Speculum Brasilis.
Roberto
Corrêa
- Nascido em Campina Verde, MG, Roberto Corrêa é
descendente de uma família de violeiros. Iniciou-se na
música aos 8 anos através do violão, instrumento
que abandonou anos mais tarde para dedicar-se exclusivamente à
viola. Radicado em Brasília desde 1975, graduou-se em física
e música pela UnB. Em mais de vinte anos de carreira, Roberto
Corrêa apresentou a viola caipira e a viola de cocho nas
diversas regiões brasileiras e em 28 países de todos
os continentes. Lançou onze CDs, publicou
livros, LPs e vídeo, e participou de diversos projetos
especiais.
Como compositor, Roberto Corrêa vem contribuindo para formação
do repertório da viola, especialmente solista. Sua música,
embora vinculada às tradições musicais interioranas,
freqüentemente é associada à contemporaneidade
e à erudição. Como intérprete, explora
as potencialidades do instrumento com virtuosismo técnico.
Corrêa desenvolveu técnicas próprias para
a viola, sistematizou a técnica de violeiros
tradicionais e publicou o mais completo método para ensino
e estudo da viola caipira.
Como pesquisador das tradições musicais do Brasil,
realizou, além de trabalhos independentes, pesquisas com
o apoio do CNPq, do INF/Funarte e do MinC. Publicou, entre outros
trabalhos, o livro Viola Caipira (Viola Corrêa, 1983), o
primeiro no Brasil sobre o instrumento; e o livro A Arte de Pontear
Viola
(MinC/ Viola Corrêa, 2000), no qual apresenta seu método
para o ensino e a aprendizagem da viola, e sua pesquisa sobre
as tradições do instrumento no Brasil. Roberto Corrêa
é professor pesquisador da Escola de Música de Brasília,
onde passou a lecionar em 1985, tornando-se o primeiro professor
de viola caipira em escola oficial. Compôs trilhas sonoras
originais para a TV Globo e a TV Cultura e para espetáculos
teatrais. Foi tema do documentário Roberto Corrêa
? A Tradição da Viola, da TV SESC/ SENAC, e teve
sua trajetória, sua obra e suas atuações
veiculadas em programas especiais da TV Cultura, do Canal Rural,
da TV Câmara e da TV Senado. |